Fomos despejados! Patas Dadas é uma ONG dedicada ao resgate e cuidado de animais em situação de abandono. Desde a sua fundação em 2009, a ONG tem se empenhado em proporcionar todo o suporte necessário para que esses animais possam ter uma vida digna e encontrar um lar amoroso. Com uma equipe de voluntários apaixonados por animais e uma rede de apoio, o Patas Dadas já ajudou mais de 1000 animais a encontrarem um novo lar. Porém, fomos despejados e impedidos de continuar o nosso trabalho.
Veja também:
+ Recorde no Guinness: gata de destilaria escocesa matou 29 mil ratos ao longo da vida
+ Saiba como cuidar de um peixe-dourado
+ Guia para escolher, adotar e cuidar do seu próximo cão
O relato/denúncia a seguir é o golpe final que sofremos no local onde atuamos desde 2009. Para quem não sabe, o nosso canil ficava dentro do Campus do Vale da UFRGS, e em 2016 conseguimos com muito esforço utilizar um espaço que seria destinado a um depósito de máquinas. Através do nosso Projeto de Extensão, construímos baias para acomodar os cães, além de um cachorródromo e espaço para as pessoas voluntárias fazerem o trabalho diário de cuidados. Essas obras foram feitas pela SUINFRA, responsável pelas construções e reformas na Universidade, a pedido nosso.
O nosso canil, que foi construído na divisa tênue entre o Campus do Vale e residências de Viamão, possuía uma Licença de Operação emitida pela FEPAM, que ficava sob responsabilidade do DMALIC, um departamento da SUINFRA. Acontece que, entre 2017 e 2018, moradores da vila que fica a poucos metros do canil denunciaram a Universidade por conta dos latidos dos cães, cães esses que em sua maioria foram abandonados na própria vila. Com isso, o DMALIC ficou responsável por emitir laudos semestrais à FEPAM com medição de ruídos, e esses foram considerados excedendo o limite para o local.
Nesse meio tempo, veio a pandemia em 2020, e decidimos fechar temporariamente o canil para evitar a exposição das pessoas, levando todos os cães para lares temporários. No último contato com o DMALIC, viram que o canil estava vazio, avisaram a FEPAM de que não haviam mais cães e acharam que tinham resolvido a situação. Em 2021 retomamos as atividades no canil enquanto eles emitiam os laudos atestando que o canil estava vazio (não sabíamos sobre a L.O. estar suspensa, não nos avisaram nada!) e fomos surpreendidos em 2022 quando nos convocaram para uma reunião reclamando que estávamos irregulares nas dependências da Universidade.
O que se seguiu foi uma tentativa desesperada de tentar reverter esse processo: recebemos os engenheiros da SUINFRA no canil, que trouxeram algumas ideias para mitigar a produção de ruídos, desde o plantio de bambus até o revestimento das baias com manta acústica, tudo isso enquanto ainda tínhamos o Projeto de Extensão ativo e, portanto, poderiam fazer as reformas. A partir desse ponto, ficou bem claro que a SUINFRA não tinha interesse de reverter a situação que eles mesmo criaram, pois a comunicação ficou bem difícil, não respondiam nossos e-mails e a cada resposta surgia uma nova burocracia que os deixava cada vez menos responsáveis pela infraestrutura do canil. A falta de vontade da gerência da SUINFRA e DMALIC era tão evidente quanto o desprezo histórico da própria UFRGS com os abandonos e com a nossa atuação.
Tentamos contato com a SEDETEC (que faz os convênios entre empresas e a UFRGS, e um convênio seria a segunda forma de um vínculo além do projeto de extensão), não obtivemos retorno nenhum, depois de vários emails pra gerência de lá. Por fim, a SUINFRA somente contatou a professora coordenadora do Projeto de Extensão, ordenando o esvaziamento do canil no meio de fevereiro pelo sistema interno da UFRGS (SEI) e não enviou um e-mail notificando, nem mesmo para ela. Por sorte ela abriu o SEI e encontrou o despacho. E assim ficamos após anos de trabalho árduo realizado de forma totalmente voluntária por aqueles que dedicam parte da sua vida ao cuidado animal: sem estrutura física, sem canil, sem local para sequer armazenarmos nossos itens que foram doados pela comunidade.
Perdemos o Projeto de Extensão por incompetência da SUINFRA e agora fomos forçados a desocupar o nosso canil. Enquanto seguem aparecendo novos animais abandonados toda semana, a Universidade ameaça recolher e descartar nossas doações. Esse ataque escancara o histórico sujo da UFRGS de inação perante tantos abandonos. Fazemos um serviço de graça para a própria comunidade acadêmica, resgatando cães que muitas vezes podem ser reativos e portar zoonoses, e é assim que somos tratados: com total desprezo! Além disso, realizamos o controle populacional dos cães, já que ao longo dos quase 14 anos de projeto já são mais de 1000 adotados. Se estivessem ainda pelo campus e se reproduzindo, provavelmente teriam o mesmo fim dos cães que motivaram a criação do projeto: envenenamento.
Chegamos ao lamentável ponto de ter que pedir permissão para poder fazer o nosso trabalho voluntário, e mesmo assim nos tratam como um problema e não como a solução.
Nos apoie nessa luta para termos de volta um espaço para continuar com o nosso projeto!